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O número de migrantes pobres em Florianópolis sofreu um acentuado acréscimo nos primeiros meses de 2006, com a novidade da presença significativa de pessoas provenientes de estados das regiões Norte e Nordeste do País. O balanço é da gerente da Família da Secretaria do Desenvolvimento Social da Capital, Elizabete Silveira Goulart, responsável pela recepção e encaminhamento desses migrantes a suas cidades de origem.

“Quase todos que se deslocam para Florianópolis estão em busca de empregos”, salientou Elizabete, atraídos pela propaganda em torno da qualidade de vida da cidade. “Quando chegam aqui eles verificam que não é bem assim, que a cidade não tem indústrias e muitos dos empregos no setor turístico são temporários”, acrescentou. O número de pessoas recambiadas dá uma idéia mais precisa do aumento da migração: enquanto em 2005 foram 846 casos, só nos primeiros cinco meses do ano esse volume chegou a 677.

Esta variação no número de pessoas que pedem ajuda para voltar à cidade de origem foi em decorrência do tornado que atingiu a região Norte da Ilha de Santa Catarina no início do ano, especificamente a Vila Arvoredo (Favela do Siri), em Ingleses. “Cerca de 20 famílias que receberam indenizações, resolveram retornar às suas cidades de origem e isso contribuiu para o aumento no número de recambiados”, destacou Elizabete.

Todas as pessoas que buscam a gerência da Família pedindo ajuda para voltar aos locais de onde vieram, têm de preencher um cadastro e aguardar que as informações fornecidas sejam confirmadas. “Precisamos verificar, conversar com as prefeituras das cidades indicadas, saber se aquela pessoa está mesmo precisando da ajuda que solicita”, explicou. Isso evita que sejam cometidas fraudes, como a de estudantes em férias que desejam visitar os familiares.

Os gastos mensal com as passagens em ônibus convencionais ficam em cerca de R$ 10 mil , mas estes valores devem sofrer significativo aumento até o final do ano. Até agora os migrantes eram provenientes de cidades do Oeste e Planalto Serrano de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, “mas a presença de pessoas das regiões Norte e Nordeste do Brasil vai provocar uma elevação nos gastos com as passagens”, prevê Elizabete.

Mulher veio atrás de filho que não a recebeu

Entre 10 a 12 migrantes procuram o serviço de atendimento ao migrante instalado na rodoviária Rita Maria pela Secretaria do Desenvolvimento Social de Florianópolis, todos em busca de passagens para suas cidades de origem, alimentação ou abrigo. “Se não atendermos essas pessoas elas vão acabar nas ruas”, justificou a funcionária Daniela Teixeira Chaves da Silva, que atua na recepção e atendimento dessas pessoas.

Na manhã de quinta-feira, num espaço de menos de meia hora, três migrantes procuravam ajuda no local. Quem estava angustiada para chegar em casa era Lucivane Maria Pelepenkol, residente em Xanxerê, no Oeste catarinense. Ela veio para Florianópolis na última segunda-feira com a disposição de permanecer com o filho de 17 anos, residente no bairro Balneário. “Ele não quis nem me receber. Está vivendo com uma mulher da mesma idade dele e nem deixou eu entrar em casa”, disse, sem conseguir conter as lágrimas. “Além de não me deixar ficar com ele, tomou meu aparelho celular antes de me mandar embora”.

Cabelereira e faxineira em Xanxerê, Lucivane passou em claro a noite de quarta-feira para ontem, esperando a abertura do setor de atendimento ao migrante. “Eu sou separada do pai dele mas não recebo nenhuma pensão. Tudo que ele dá vai para as mãos desse meu filho que agora não quer nem saber de mim”. Dramas como esses são relatados todos os dias aos funcionários da gerência da Família da rodoviária Rita Maria.

Outro migrante atrás de ajuda foi Daniel dos Santos, 25 anos, nascido em Curitibanos e residente em Pouso Redondo, no Alto Vale do Itajaí. “Eu deixei minha família em casa e vim na frente para ajeitar as coisas e depois trazer todos para cá”, disse Daniel, que já tem em vista dois empregos, um como caseiro em uma chácara e outro num posto de combustível. “Estou voltando antes do tempo porque meu filho de um ano de idade ficou doente”, justificou. “Como estou indo para lá antes do previsto, vou acabar trazendo a família e depois buscar um lugar para que possamos morar”, assinalou.

Outro que pedia uma passagem era Almir Rogério, 30 anos, natural de Maceió (AL), há cerca de dois meses em Florianópolis trabalhando como auxiliar de serviços gerais num hotel. “Minha mãe, que tem 60 anos de idade, está doente e fui chamado por meus parentes para dar uma ajuda a ela”, explicou. Almir terá de esperar até a próxima semana para receber a passagem e depois enfrentar uma viagem de quatro dias até chegar em casa.

Problema é social e não de polícia, diz padre

O Dia do Migrante será comemorado domingo (2/7) com uma missa na Catedral Metropolitana de Florianópolis, às 19h30, reunindo representantes de movimentos sociais, pastorais e entidades de direitos humanos. Antes da missa, às 18 horas, haverá celebração com a presença de migrantes de diversos estados, incluindo imigrantes de outros países, quando serão servidos pratos típicos de diversas procedências.

“O número de migrantes em Florianópolis é elevado e essas pessoas passam por situações de muito sofrimento”, segundo o coordenador da Pastoral do Migrante vinculada à Catedral Metropolitana, padre Giovani Corso. “Devemos nos preocupar também com a presença de muitos brasileiros no exterior e que também precisam ser amparados”, enfatizou Corso.

Ele também chamou a atenção para a presença de estrangeiros estabelecidos em Florianópolis,
“alguns que chegam documentados com o objetivo de passar o restante de seus dias na Ilha, mas um grande número deles passa por privações”. Esse problema é encarado como caso de polícia, “mas precisa ser olhado como uma questão humana. Compreendemos a necessidade de uma interferência policial, mas a intervenção não pode se resumir a isso”, afirmou o padre.

Corso defende a necessidade de “uma boa dose de tolerância” no tratamento do problema, citando como exemplo a Copa do Mundo que se realiza na Alemanha. “Vemos que todos os times são formados por jogadores de várias nacionalidades, promovendo um contato entre diferentes culturas”, disse Corso. “O futuro da humanidade depende da boa acolhida das diferentes culturas com todas as diferenças que existem entre elas”, completou. (Celso Martins, A Notícia, 26/06/2006)

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